Começa o caminho da escalada brasileira rumo a Paris 2024

Começa o caminho da escalada brasileira rumo a Paris 2024

Rodrigo Hanada competindo na Copa do Mundo de Innsbruck 2022, na Áustria | Foto: Jan Virt/IFSC

Vai começar o período de classificação olímpica para a escalada brasileira. Em abril tem início o circuito da Copa do Mundo de Escalada, que é a base para o Ranking Mundial, principal ferramenta do sistema de classificação para Paris 2024. 

Nossos atletas fazem sua estreia já nas primeiras etapas, buscando somar pontos e garantir a classificação para 2 dos 3 eventos qualificatórios: Jogos Pan-Americanos Santiago 2023 e Olympic Qualifying Series. Para conquistar as vagas nestes eventos, toda uma estratégia foi montada, visando maximizar as pontuações e as colocações no Ranking Mundial. 

Um resumo do sistema de classificação

As vagas para competir na Escalada Esportiva em Paris serão disputadas em 3 grandes momentos. O primeiro é o Campeonato Mundial de Escalada Esportiva, que acontece em Berna, na Suíça, em agosto. O evento concederá 3 vagas por gênero na prova Boulder+Guiada, e 2 vagas por gênero na prova Velocidade, totalizando 10 vagas das 68 reservadas para a Escalada Esportiva nos Jogos. 

O segundo momento será através dos 5 eventos qualificatórios continentais, cada um concedendo 1 vaga por gênero/prova, para um total de 20 vagas distribuídas. Até aqui já terão sido 30 das 68 vagas. Os Jogos Pan-Americanos será o evento qualificatório do continente americano e utilizará o Ranking Mundial para selecionar os atletas que participarão, até o limite de 3 atletas de cada país por gênero na prova Boulder+Guiada, e 2 atletas da cada país por gênero na Velocidade. 

O terceiro momento de disputa será o Olympic Qualifier Series (OQS), um evento qualificatório que reunirá as modalidades BMX Freestyle, Brake, Skate e Escalada, em 3 etapas que acontecerão de março a junho de 2024. Para a Escalada, o OQS irá distribuir 10 vagas por gênero na prova Boulder+Guiada e 5 vagas por gênero na Velocidade, totalizando 30 vagas concedidas, chegando finalmente a 60 atletas classificados. 

As vagas restantes ficam para o país sede, que leva 4 vagas (1 vaga por gênero/prova) e para o critério de universalidade, que também fica com 4 vagas (1 vaga por gênero/prova).

A estratégia da escalada brasileira 

Para traçar uma estratégia de classificação, a equipe técnica ABEE primeiro teve de considerar as variáveis em jogo. Uma das primeiras considerações foi em qual prova concentrar os esforços. Sem contar atualmente com estruturas para treino de Velocidade, nem atletas correndo o circuito mundial, a escolha óbvia foi focar toda a energia e recursos na prova de Boulder+Guiada. Nossos atletas já competem regularmente no circuito mundial nas provas de Boulder e Guiada, e as estruturas para treino no Brasil permitem uma preparação adequada quando somadas a momentos de intercâmbio internacional. 

O segundo ponto é a quantidade máxima de atletas por país permitida em etapas da Copa do Mundo. Até 2022 cada país podia inscrever até 5 atletas por prova/gênero. Para 2023 a Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC) fez mudanças nas regras, deixando as cotas por país vinculadas ao Ranking Mundial. Devido à posição de seus atletas no ranking em 2022, o Brasil só poderá enviar para eventos da Copa do Mundo este ano até 2 atletas por gênero/prova. Considerando que para os Jogos Pan-Americanos a cota máxima por país é de 3 atletas por gênero na prova Boulder+Guiada, já ficou evidente a necessidade de algum tipo de rodízio entre os atletas para buscar completar estas 3 vagas. 

O terceiro e último ponto foi o cálculo do Ranking Mundial em si, onde foram pesadas as possibilidades de pontuação, a concorrência e a quantidade de eventos em que cada atleta precisaria competir para tentar garantir a pontuação necessária.

Com tudo isto em mãos, foi desenhada uma estratégia de participação nas etapas da Copa do Mundo com 2 objetivos: 

  • Conquistar as 3 vagas por gênero para os Jogos Pan-Americanos na prova Boulder+Guiada;
  • Conquistar 1 vaga por gênero para o Olympic Qualifier Series.

O Campeonato Mundial, apesar de ter prevista participação brasileira, ficou de fora da estratégia de classificação por ser um evento que entrega poucas vagas, de nível muito alto, onde não há perspectiva de classificação brasileira de forma direta para Paris e com chances baixas de pontuação para a maioria dos atletas brasileiros.

Com os objetivos na mesa, foram selecionados os nomes dos atletas que irão disputar essas vagas e revezar-se nas etapas da Copa do Mundo em busca dos pontos. Para o masculino, foram selecionados os atletas Felipe Ho (23 anos, São Paulo), Mateus Bellotto (20 anos, São Paulo) e Rodrigo Hanada (20 anos, São Paulo). No feminino foram selecionadas Anja Köhler (19 anos, Santa Catarina), Bianca Castro (34 anos, Rio de Janeiro) e Mariana Hanggi (16 anos, Paraná).

Mariana Hanggi é a mais jovem do time brasileiro disputando vaga em Santiago e Paris 2024 | Foto: Jan Virt/IFSC

Para os jogos Pan-Americanos, foi analisado que as chances de classificação – levando em conta o número de vagas, os países concorrentes e as possibilidades de pontuação no ranking – são muito boas. A ABEE acredita que deve cumprir a meta de classificar os 6 atletas sem problemas. A estratégia é participar do máximo de eventos possíveis, privilegiando aqueles onde as chances de pontuar melhor sejam maiores. Por isso, foram previstas pelo menos 4 participações em Copas do Mundo para cada atleta, incluindo etapas da Ásia e dos EUA, onde geralmente o número de atletas é menor e as chances de somar pontos, maiores.

Para o OQS, as chances de classificação são bem mais reduzidas, mas ainda considerada possível para os nossos atletas. As regras de classificação para o OQS ainda não foram completamente definidas. Não se sabe quantos atletas por gênero cada país poderá classificar, nem se países já com a cota para os Jogos preenchida poderão participar. Tudo isso deixa o cálculo de possibilidades mais complexo. 

Como a briga pelas vagas no OQS vai ser mais acirrada- são 48 vagas por gênero no total – era necessário uma participação maior em eventos da Copa do Mundo para tentar garantir uma pontuação mais robusta. Como não há recursos para prover esse nível de participação para todos os atletas, foram elencados apenas dois a serem priorizados: Felipe Ho e Anja Köhler. Ambos foram considerados como os de maior potencial para se manter na zona de pontuação de forma consistente e ranquear melhor, ganhando a oportunidade de participar em mais eventos. A meta é conquistar um lugar entre os Top 60 do ranking, o que deve assegurar a classificação. Mesmo entre os Top 80 a chance ainda existe, mas passa a depender também de uma combinação ideal de circunstâncias. 

Felipe Ho é um dos atletas prioritários do time para Paris 2024 | Foto: Jan Virt/IFSC

Nossa participação no circuito

Levando em conta toda a estratégia pensada acima, mais a pontuação já conquistada por cada atleta no ranking e a validade dessa pontuação, foram selecionadas 6 etapas da Copa do Mundo, com os atletas revezando-se da seguinte maneira:

  • Copa do Mundo Hachioji | Boulder – 21 a 23 de Abril: Felipe Ho, Rodrigo Hanada, Anja Köhler e Bianca Castro;
  • Copa do Mundo Seoul | Boulder – 28 a 30 de Abril:  Felipe Ho, Rodrigo Hanada, Anja Köhler e Bianca Castro;
  • Copa do Mundo Salt Lake City | Boulder – 19 a 21 de Maio: Felipe Ho, Mateus Bellotto, Mariana Hanggi e Laura Timo;
  • Copa do Mundo Villars | Guiada – 30 de Junho a 02 de Julho: Mateus Bellotto, Rodrigo Hanada, Mariana Hanggi e Anja Köhler;
  • Copa do Mundo Chamonix | Guiada – 7 a 9 de Julho: Mateus Bellotto, Rodrigo Hanada, Anja Köhler e Bianca Castro;
  • Copa do Mundo Briançon | Guiada – 14 e 15 de Julho: Felipe Ho, Mateus Bellotto, Anja Köhler e Bianca Castro;

Estas etapas cobrem o período de classificação para os Jogos Pan-Americanos, cuja janela do ranking se encerra no dia 12 de agosto, após o Campeonato Mundial de Escalada em Berna. Pensando na classificação para o OQS, os atletas prioritários podem vir a participar ainda de até duas novas etapas na modalidade Guiada: Koper na Eslovênia e Wujiang na China; esta última sendo utilizada somente em caso da necessidade de melhorar a pontuação antes do final do circuito. Para o OQS os atletas também devem somar pontos pelos Jogos Pan-Americanos, que acontecem em outubro. A meta é ficar entre os 5 primeiros, tanto no masculino quanto no feminino, o que não garante a classificação para Paris, mas forneceria pontuação importante para o ranking, talvez selando a participação dos brasileiros no OQS.

Uma vez classificados para a última perna do sistema de qualificação para os Jogos, a ABEE dará seu trabalho no ciclo olímpico 2024 como cumprido com êxito, mas com certeza nossos atletas lutarão até o final em busca da sonhada, e inédita, vaga olímpica. 

 

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