Resultados Censo da Escalada 2023
É perceptível que a escalada tem experimentado um crescimento nos últimos anos: novos ginásios sendo inaugurados, aumento no número de pessoas praticando e competindo, principalmente após a estreia nos Jogos Olímpicos Tokyo 2020.
Para acompanhar esse desenvolvimento e compreender melhor o cenário atual da escalada no Brasil, no ano de 2023 a ABEE organizou um novo Censo da Escalada. A partir do uso dessa ferramenta, foi possível compreender a realidade da comunidade de escalada, traçando o perfil dos atuais praticantes do esporte.
Abaixo apresentamos e comentamos alguns dos números principais. Para acessar os documentos completos do Censo da Escalada 2023, clique aqui.
Um cenário ainda pouco diverso mas em aparente crescimento
O Censo da Escalada 2023 coletou informações sobre as principais características pessoais e práticas esportivas dos participantes, incluindo diferentes modalidades de escalada. Com base nos dados levantados, observa-se que o perfil geral do escalador que respondeu à pesquisa ainda é predominantemente de homens brancos, um perfil recorrente na prática esportiva no geral, e residentes no Sul e Sudeste do Brasil, um perfil histórico dos praticantes de escalada no país.
70,7% dos praticantes são brancos, com 16,3% declarando-se como pardos e 4,3% como pretos. 67,3% são homens e 32,1% são mulheres, com apenas 0,6% identificando-se como não-binários ou não preferindo não responder. A grande maioria (66,7%) vive no sudeste do Brasil (SP, MG e RJ), com outros 19,7% sendo residentes do Sul do país (PR, SC, RS).
Esses dados evidenciam que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir mais diversidade e equidade entre os praticantes da escalada, e, compreender o tamanho da disparidade, é o primeiro passo para ações mais afirmativas e inclusivas.
O estudo também abordou o nível de experiência dos praticantes. Os dados revelam que a maioria dos escaladores entrevistados (56,7%) possui entre um e cinco anos de experiência na prática do esporte. Esse número está alinhado com outros levantamentos recentes e pode ser atribuído ao aumento do número de ginásios no país, bem como à maior visibilidade da escalada esportiva após sua inclusão nos Jogos Olímpicos. Além disso, os resultados mostram um percentual significativo de praticantes com mais de 20 anos de experiência (10,2%), com alguns respondentes relatando mais de 35 anos de prática. Esses dados reforçam a ideia de que a escalada é um esporte duradouro e, em muitos casos, torna-se um estilo de vida para os praticantes.
Quando questionados sobre as modalidades que praticam, os entrevistados indicaram que se dedicam principalmente à escalada esportiva (87,8%) e ao boulder (78,2%). Este percentual está bem alinhado com a facilidade de acesso a essas modalidades, especialmente em ginásios indoor. Vale ressaltar que as respostas não eram exclusivas, permitindo que os entrevistados selecionassem mais de uma modalidade.
Apesar da esperada preferência pela Escalada Esportiva e pelo Boulder, a ‘escalada tradicional’, como se chama no Brasil, teve um percentual significativo de praticantes, alcançando 42,3%. Outras modalidades menos populares também foram mencionadas, incluindo Psicobloc/DWS (6,8%) e Alta Montanha (7,1%).
Em relação aos locais de prática do esporte, o Censo destacou que a grande maioria dos escaladores respondentes prefere praticar escalada na rocha ou na montanha (76,3%), mas um grande número também pratica em ginásios de escalada comerciais (67,5%). Mais uma vez, as opções não eram excludentes, permitindo que o respondente selecionasse mais de um local de prática. Esses números indicam que a prática da escalada está intrinsecamente ligada ao ambiente natural, e que muitos praticantes usufruem dos dois ambientes de forma conjunta. Curiosamente, o percentual de entrevistados que respondeu que pratica exclusivamente na rocha/montanha é de 12,4%.
A escalada assim como outros esportes outdoor carregam o estigma de esporte perigoso. Sendo assim, o Censo da Escalada 2023 também buscou saber o percentual de acidentes entre os praticantes da modalidade e seu nível de gravidade.
Aproximadamente 57,7% dos praticantes respondentes nunca relataram ter sofrido acidentes durante a escalada, enquanto cerca de 33% afirmaram ter enfrentado apenas acidentes leves. Isso indica que mais de 90% dos escaladores nunca experienciaram acidentes graves, sugerindo que o esporte é consideravelmente mais seguro do que o senso comum leva a crer.
No entanto, é importante ressaltar que, apesar desses números indicarem uma relativa segurança, a escalada não está isenta de riscos. Portanto, é fundamental que o praticante iniciante procure um ginásio com instrutores capacitados e, caso deseje praticar o esporte no ambiente natural, procure estar acompanhado de escaladores experientes ou, idealmente, busque capacitar-se, realizando cursos de escalada certificados por entidades de montanhismo.
A pesquisa mostra ainda que, a maioria dos praticantes têm uma frequência de prática entre 3 e 5 vezes por semana, demonstrando um alto nível de engajamento com o esporte. Por outro lado, cerca de 33,3% dos escaladores praticam o esporte pelo menos uma vez por semana, o que pode indicar a presença de iniciantes na comunidade escaladora.
Primeiros números sobre a escalada de competição
Além das informações gerais dos praticantes de escalada, o Censo organizado pela ABEE também buscou conhecer melhor a relação dos praticantes com as competições.
A partir da pergunta inicial, ‘se os praticantes haviam competido nos últimos 2 anos’, o questionário também investigou as modalidades de participação, patrocínio e acompanhamento por profissionais da área esportiva. O objetivo dessas perguntas era obter os primeiros registros do envolvimento dos praticantes com o cenário de competições, seu engajamento e nível de profissionalização, permitindo avaliar o progresso dessas questões em medições futuras.
Dos praticantes que responderam ao Censo, uma parcela significativa (80,3%) registrou não ter participado de competições nos últimos 2 anos. Contudo, o percentual é compatível com o levantamento realizado pelo IBGE em 2015 (Pnad 2015: Prática de Esporte e Atividade Física), que registrou que apenas 14,5% dos praticantes de esporte no Brasil participam de competições.
Dentre os que competem, uma análise sobre patrocínio foi realizada. 84,3% nunca tiveram patrocínio durante suas carreiras e 85,2% não contam com patrocínio no momento. Os números apontam para um cenário ainda muito próximo do amador, mas com sinais de melhora, já que 10,6% informaram que já tiveram patrocínio de empresas privadas em algum momento da sua carreira e 6,3% indicando que tem atualmente patrocínio dessa natureza. Além disso, as bolsas de fomento ao esporte também foram mencionadas, ainda com números discretos, e vai ser interessante acompanhar estes dados em levantamentos futuros, à medida que mais estados passam a incluir a escalada como modalidade elegível e o número de atletas beneficiados com o Bolsa Atleta Nacional aumenta.
No aspecto do acompanhamento por profissionais do esporte e multidisciplinar, o cenário se mostra um pouco mais desenvolvido. Apesar de ainda 50,5% dos competidores indicarem que não tem qualquer acompanhamento, 32,6% já tem acompanhamento de um técnico, 16,9% de preparador físico, 15,1% de fisioterapeuta e 13% de nutricionista. O acompanhamento psicológico também apareceu nas respostas, com 6% e apenas 0,6% registraram ter acompanhamento de profissional de marketing para gerir a carreira neste aspecto.
Entre as modalidades com mais competidores, o Boulder alcançou o número expressivo de 98,2%, ou seja, quase a totalidade dos competidores que responderam à pesquisa competem nesta modalidade. Em seguida, a modalidade guiada teve 31,7% das respostas e a velocidade 9,1%. Os números estão alinhados com as inscrições nos eventos do Campeonato Brasileiro, onde o Boulder é de longe a modalidade mais concorrida.
Por fim, os atletas foram perguntados sobre o nível de competição que participam, se Regional/Estadual, Nacional ou Internacional. Dos participantes, 92,7% informaram competir a nível Regional/Estadual, 25,7% a nível nacional e 6,6% a nível internacional. Os números reforçam a ideia de que os eventos de nível Regional/Estadual tem maior potencial de atrair atletas e por isso mais interessantes como porta de entrada para as competições e como fomento para as categorias de base.
Apesar de reconhecer que o censo não abrangeu um número significativo de praticantes do esporte no Brasil, a ABEE enfatiza a importância desse tipo de pesquisa para compreender e acompanhar a comunidade escaladora ao longo do tempo. A entidade espera nos próximos estudos conseguir participação mais abrangente por parte dos escaladores, o que permitirá uma análise mais completa e precisa do cenário da escalada no país.
Para ter acesso aos relatórios completos do Censo, incluindo dados sobre identificação da comunidade com o esporte, outros hábitos, consumo de conteúdo sobre a modalidade na internet e um levantamento sobre marcas em diversos segmentos, clique nos links abaixo:
Relatório 1 – Sociodemográfico e levantamento sobre competição
Relatório 2 – Escalas de identificação e experiência e outros hábitos.